Ahh Orgulho...
- Nany Arruda
- 10 de mai.
- 3 min de leitura
Há um pecado que nunca dorme. Um verme que rói a raiz da verdadeira piedade. Um demônio sorrateiro que nasceu conosco e que só a morte ou a graça pode matar — o orgulho.

Aquele que, ainda que fale em nome de Deus, vive como se não tivesse Pai.
O orgulho é a virtude do órfão que se crê digno, mais maduro, mais eficaz, mais inteligente e mais perspicaz que a Noiva de Cristo. No fundo, acredita ser mais poderoso que o próprio Deus. O orgulho o convence de que está acima da correção, acima da comunhão, acima da cruz. E assim, ele se isola, se inflama e se exalta.
O púlpito, outrora trono sagrado da Palavra, tem cedido lugar a palanques, onde teologias mastigadas em vídeos do TikTok, Instagram e YouTube são transformadas em frases de efeito, jogadas em posts e debates vazios em lives. Um conteúdo que deveria edificar o Corpo é manipulado para autopromoção, acusação e vanglória — tudo cuidadosamente calculado, compartilhável, monetizável. “Compartilhe, comente, salve, me siga.” Este é o novo apelo à conversão.
E, muitas vezes, abrimos espaço em nossa agenda “ministerial” para encontros que misturam cordeiros e lobos, disfarçados de comunhão, mas movidos por networking e interesses pessoais. Há uma linha tênue — quase invisível — entre uma assembleia de irmãos e um ajuntamento de promotores de si mesmos. Ali se promovem “meus livros”, “minha escola”, “minha agenda”, “minhas palavras”, “minha branding”. O que deveria ser serviço se torna vitrine. Eventos são produzidos com GREEN-rooms, cheios de roteiros e estruturas mais próximas de Hollywood do que da igreja primitiva de Atos. O ministério, tristemente, vira mercado.
Tudo isso, muitas vezes, é sustentado não pelo Espírito, mas pela bajulação — aquela que Spurgeon descreveu com precisão:
“A bajulação é o doce mais agradável ao paladar do homem orgulhoso. Ele não só a aceita — ele a deseja. E, ao recebê-la, não se sacia: pede mais.”
Mas o que é esse doce, senão o prelúdio do vômito? Pois aquele que busca aplausos em nome de Deus está, na verdade, buscando aplausos em nome de si mesmo.
A bajulação é engolir o próprio vômito. Ela não edifica — adoece. É um veneno servindo-se do gosto do mel. Faz o homem esquecer de Deus e se apaixonar por si mesmo.
E assim, negligencia sua família. Esquece a igreja local. Sacrifica a vida comum — o chão sagrado da existência — tudo em nome de um “chamado” que, na verdade, esconde uma fome velada por reconhecimento. A família se torna empecilho. O lar, um detalhe secundário. O discipulado, uma demanda muito alta por falta de tempo, pois o que está em jogo é o “chamado”. Afinal, para o coração orgulhoso, o mundo sempre será pequeno demais para sua própria glória.
Spurgeon também disse:
“O orgulho é tão natural para o ser humano quanto respirar. Pode-se tão bem tentar convencer um gato a desprezar o leite como tentar fazer um homem orgulhoso rejeitar a bajulação.”
Ah, Senhor… como isso nos confronta!
Como é fácil confundir visibilidade com influência, e relevância com aprovação. A cruz, que deveria nos crucificar, se transforma em trampolim. Mas o que começa com aplausos termina com juízo. O que começa com glória termina em vazio. Aquele que usou a cruz como trampolim descobrirá que ela era, na verdade, a corda da sua queda.
Virá o dia. A taça do furor do Senhor, que os profetas anunciaram, está cheia. E que será de nós, se tivermos trocado a glória de Deus pela dos homens? Se usamos o nome de Cristo para construir o nosso próprio nome?
Beberemos da taça.
E, naquele dia, não haverá editor que apague, seguidor que defenda, nem influência que salve. A fama será pó. Os números não pesarão na balança. As luzes se apagarão. E só restará a verdade diante do Justo Juiz.
Arrepende-te, ó homem e mulheres de Deus.
Volta para tua família. Ama teus filhos. Serve tua igreja local com humildade. Desce do palco. Rasga tua agenda. Lança tua coroa aos pés dAquele que foi coroado de espinhos.
Lembra-te: Ele se esvaziou — e tu queres te encher? Ele se humilhou — e tu queres ser exaltado? Ele silenciou — e tu queres ser ouvido?
Choremos por esse orgulho. Como Davi, oremos:
“Senhor, livra-me também dos pecados ocultos!”
Que Deus nos faça desprezar a glória passageira e nos satisfaça com o privilégio de sermos pequenos diante de Sua grandeza.
E, enquanto ainda há tempo, com temor e reverência, dobremos nossos joelhos e digamos:
“Senhor… não nos permita ser nem mesmo uma gota naquele cálice seco.”
😀